Yacine, O Mago Do Magreb

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Yacine, O Mago Do Magreb


Foi assim que derrubamos as muralhas e conquistamos os que têm a fama de conquistadores. Não foi com força bruta, não foi com uma estratégia surpreendente, foi com magia negra. Africana e de várias tonalidades, para ser mais preciso.


foto original: Catarina Morais / Kapta +

O jogo começou com o Porto determinado em marcar cedo e colocar o Vitória em sentido. Criamos um par de boas situações e houve mais uma grande penalidade perdoada a um adversário nosso, logo ao minuto dez, desta vez sobre Marega (um agarrão claro e ostensivo). Mas ficariam mais por assinalar.

Perante a menor inspiração dos nossos e dos do apito e tele-apito, o jogo foi avançando e o Vitória, na primeira vez que se acercou da baliza de Sá, fez golo por Raphinha. Alguma passividade na lateral esquerda e mais ainda de Ricardo, que se deixou antecipar pelo brasileiro.

A perder aos 22 minutos, sem nenhuma das equipas saber bem como isso aconteceu. Já à de arbitragem que deslizava sobre o tapete do Dragão, aceito perfeitamente que não tenha conseguido descortinar o fora de jogo "milimétrico" de Raphinha. O que não entendo é por que motivo o VAR não analisou o lance com minúcia - eu fi-lo em poucos segundos e não tive dúvidas, mesmo sendo centimétrico. Para que serve o pacóvio na cabine, então? Para decidir de forma diferente em lances iguais, quando se trata de proteger os da segunda circular? Claramente que sim, é para isso que esta encomenda aVARiada serve.

Os nossos sentiram em demasia o golo sofrido e sentiram muitas dificuldades para se reorganizar, táctica e mentalmente, durante os mais de 25 minutos que ainda durou essa primeira metade. Nervosismo, precipitação, incoerência nas decisões, poucas coisas saíram bem nesse período. Pior do que ao Porto, só mesmo o que se passou com a já famosa equipa de arbitragem: mais dois penáltis perdoados - um para cada lado - e um claríssimo segundo amarelo por mostrar a Rafael Miranda - decisão inacreditável de Artur Soares Dias.

Confesso que estava apreensivo ao intervalo, pelo que não conseguimos jogar e pelo que arbitragem não quis assumir - o cumprimento das regras. Ao ver que o mesmo onze se mantinha, uma luzinha de esperança reacendeu-se, por sentir que havia um plano sólido que afinal não estava ainda abalado. 

O resto já é história. Entrada muito forte, com uma oportunidade logo nos primeiros segundos, que teve sequência alguns minutos depois e que finalmente foi coroada aos 57', com o inevitável Abou a finalizar muito bem após cruzamento atrasado de Corona. O Dragão voltou a acreditar com toda a força e a equipa nunca mais parou.

O momento do jogo e seguramente um dos do campeonato chegou cinco minutos depois, por obra e graça do Mago Magrebino, o homem da cabine telefónica, o reinventado argelino que dá pelo nome de Brahimi. Recebeu a bola de Telles já dentro da área, entrou na cabine onde já estava Jubal a fazer uma chamada intercontinental e destruiu-lhe a autoconfiança numa fracção de segundo, mesmo antes de finalizar por cima de Douglas com toda a classe do mundo. Uma obra-prima. O jogo podia acabar ali que já estava tudo satisfeito.

Não acabou e a paleta de cores da magia africana continuou a desfilar pelo embevecido Dragão. Brahimi, Aboubakar, Marega e até Hernáni pintaram a manta e encantaram a plateia, garantindo quatro golos sem resposta. Tão forte foi o encantamento que alguns dos nossos, com Reyes à cabeça, acharam que eram todos como o Brahimi, embalados pelos desnecessários olés do público incauto, que ainda permitimos um segundo golo ao Vitória.

A noite encerrou em beleza, apesar das várias tentativas para que assim não fosse, e cada um dos presentes no estádio levou para casa um souvenir para guardar com carinho na memória futebolística. It was a kind of magic. Ou melhor, c'était une sorte de magie.






Notas DPcA 


Dia de jogo: 07/01/2018, 20h15, Estádio do Dragão, FC Porto - Vitória SC (4-2)


José Sá (5): Impotente no primeiro golo e mal batido no segundo, apesar da boa colocação do remate. No resto do jogo, foi quase só espectador e jogador de campo a espaços.

Ricardo (6): Um dos mais "desorientados" na primeira parte, em má parceria com Corona, com muitas bolas perdidas e desperdiçadas. Desatento no lance do primeiro golo, acaba como réu maior. A redenção só chegou no nosso último golo, com uma boa assistência para Marega finalizar fácil.

Alex Telles (6): Igualmente pouco acerto nos primeiros 45 minutos, embora menos oscilante, cresceu na segunda e lá entregou a sua assistência da praxe, embora desta vez quase seja abuso considerá-la assim, tal o brilhantismo da conclusão de Brahimi.

Marcano (6): Menos bem na primeira parte, menos mal na segunda. Mas voltou a ter daqueles passes de eriçar ao mesmo tempo os milhões de pelos e cabelos de um homem só. E de todos também.

Reyes (5): Teria a mesma nota do parceiro de sector, não fosse o deslize idiota de onde resultou o segundo golo sofrido. Menos "olés" e mais rigor, por favor.

Danilo (7): O Senhor Porto estava a ser tão ineficaz como os demais e não escapou a uma primeira parte errática. Acontece que, a certa altura, se deve ter "enchido" daquele marasmo e lá foi ele, a empurrar tudo e todos para a frente, a apontar o caminho e... pumba, 1-1. Sim, a génese do lance é toda dele. E é por isso que é o senhor Porto. Agradecido.

Óliver (6): Não começou mal, procurando dar largura ao nosso jogo, mas após o golo sofrido perdeu o discernimento e colocou-se em excelente posição para ser substituído logo ao intervalo. Felizmente que o treinador manteve a aposta, porque também ele foi importante na reviravolta.

< 65' Corona (6): Primeira metade muito desconcentrado, a perder quase todas as bolas sem um nexo de causalidade que o justificasse. Quis o destino que fosse ele a assistir Abou para o empate, golo fundamental para tudo o que veio a seguir. E só por isso, já justifica nota positiva.

 


< 80' Melhor em Campo Brahimi (9): BRAHIIIMI! BRAHIIIIMI! BRAHIIIMI! (modo standing ovation). Fez muitas coisas importantes e bem feitas, mas aquela pequena maravilha tem de ser relevada acima de todas as outras. Por ter desbloqueado o jogo e confirmado a reviravolta, mas também pelo lance em si mesmo. Soberbo. Pior ficou o pobre Jubal, que se entregou aos miminhos da APAV assim que o jogo terminou.

< 84' Marega (8): Longe dos holofotes do mago do Magreb, o maliano não quis fazer por menos e encarregou-se de selar a vitória com um par de bons golos. Antes disso, foi furando e perfurando, até conseguir que toda a defesa vitoriana ficasse com cãibras e sem fôlego.

Aboubakar (7): Picou o ponto na altura certa, devolvendo o empate ao jogo e a confiança ao Dragão. Sempre muito envolvido em todos os ataques, mesmo que nem sempre da melhor maneira.

> 65' Hernáni (7): A primeira boa exibição desde que chegou, mesmo tendo estado apenas 30 minutos em campo (ou sobretudo por isso). Entrou logo após o winner de Brahimi, já livre da pressão de ser decisivo na busca da vitória e conseguiu vários lances de bom nível pelo flanco direito, com natural destaque para o excelente cruzamento para a cabeça de Marega fazer o terceiro da noite, no fundo o golo que sentenciou o encontro. Haverá mais disto para nos oferecer?

> 80' Layún (5): Entrou para estabilizar a equipa e aumentar o equilíbrio defensivo, mas acabou por se envolver em várias iniciativas ofensivas.

> 84' Soares (-): Nada a relevar.

Sérgio Conceição (8): Vários méritos de muito relevo a registar. Primeiro e mais importante, a forma como a equipa se transfigurou após o intervalo - teve de ter dedo do treinador. Segundo e em sequência, ter mantido os mesmos onze no regresso do balneário. Se há uma estratégia, há que ser coerente com ela. Terceiro, ter mantido a aposta em Óliver após a boa resposta do espanhol na Feira. Por último, o grande desempenho no pós-jogo, acertando mesmo em cheio na desonestidade intelectual de Sonso Pança.





Outros Intervenientes:


O milésimo reforço do Sporting quis já mostrar serviço e não falhou na altura da decisão, mas aparte esse lance e mais um par de pormenores, Raphinha não conseguiu mostrar muito mais (o que não significa que não seja bom jogador, entenda-se). Destaque para o bom golo de Héldon, apesar da passadeira, e para o reencontro com Francisco Ramos, "para sempre" um dos nossos.


Quanto a Artur Soares Dias , já lhe apontei os muitos e gravosos erros durante a crónica do jogo. Agora, retiro a conclusão: o mais grave não é que ASD seja considerado o melhor árbitro português da actualidade; o mais grave é que é mesmo o melhor.


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Segue-se a eliminatória da Taça de Portugal em Moreira de Cónegos, onde teremos de estar na máxima força e concentração para garantir presença nas meias-finais, previsivelmente contra o Cova da Piedade.

Antes disso, vou ainda tentar concluir a habitual análise sobre a primeira metade da temporada.


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




5 comentários:

  1. Respostas
    1. Estou um pouco 'nervoso' em relação ao que nos reservam nos Cónegos, muito mais do que em relação ao que o Moreirense será capaz de fazer. Não gosto de ser de intrigas, mas cada vez estou mais convicto de que o melhor jogo que os nossos adversários directos praticam é o da mala. Se não, o que justifica tanta abnegação e entrega por parte desta choldra pequena nos jogos contra o FCPorto? O jogo dos estorilistas contra o feirense de ontem poderá ser comparado com o que irão realizar no dia 15 contra nós. Não sou contra a aposta nos perdedores (o short selling é isso mesmo), sou é contra o aliciamento.
      Contra tudo e contra todos tenho uma fezada que sim, que o próximo será o Cova. Se for a lagartada cá os esperaremos para lá os liquidarmos.
      1 abç
      LO

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    2. Será sempre uma cova, nem que seja para enterrar as aspirações da lagartada na Taça :-)

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  2. Boa noite caro Lápis.
    Tendo a concordar na quase generalidade das suas apreciações. Permita-me apenas dois reparos: i) Não achei o Ricardo assim tão mal embora na 1ª parte tenda a atribuir parte da menos conseguidas exibição à má prestação do Corona. 'O que passa se' com este rapaz?; e ii) Concordando com a atribuição de melhor em campo ao YB, não seria demais alertar para a tendência de cometer excessos que são como mel na sopa para a vergonhosa estratégia dos vermelhos sacanas-sem-lei, i.e. a de pressionar para por de fora os nossos melhores. 'O que passou se' para aquele gesto?
    1 abç e viva o FCPorto
    Luís Oliveira

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    1. Viva Luís

      Eu segui aquele flanco com especial atenção, por ser o do meu lado na primeira parte. Fiquei com a sensação que ambos estiveram mal, aliás tal como quase toda a equipa, só que eles um pouco pior. Mas, claro, posso não ter visto bem.

      Sim, era minha intenção dizê-lo mas depois passou. Creio que já vem detrás e está ligado com a tal atitude estranha do SC há umas conferências de imprensa atrás. Os jogadores têm mesmo de manter a compostura ou as expulsões vão continuar. Não é fácil ser provocado e aguentar, mas eles têm de "treinar" muito esse exercício.

      Segunda "vejo-o" na Amoreira?

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