Para a Uber que os Parta!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Para a Uber que os Parta!


Os homens têm razão. Afinal, a certa altura, alguém lhes ensinou e prometeu que poderiam passar o resto da vida ao volante, sem fazer mais nada. Com o sustento mínimo garantido, podiam enfim reservar para hobby as suas verdadeiras paixões, desde promissoras carreiras de proxenetas até gangsters de claques e traficantes à porta do estádio. Com o bónus de poderem continuar a prevaricar durante as corridas do taxe, para não perder o jeito.




Refiro-me, evidentemente, àquela reduzida percentagem de condutores de táxi que ontem andou à solta por Lisboa, insultando quem bem lhes apeteceu, ameaçando autoridades e destruindo propriedade alheia. Um bando de selvagens que nem um carrinho de supermercado deveria conduzir, quanto mais um automóvel de transporte de passageiros.

Mas que raio de selva é esta onde vivemos em que grupelhos de energúmenos andam à caça de outras pessoas, apenas porque os consideram "ilegais"? E que obrigam essas pessoas a trancarem-se nos carros e em bombas de gasolina para não serem barbaramente agredidos, perante a passividade das autoridades presentes? Mas que merda é esta?  Fosse o governo de outras cores (ou sem as amarras em bloco do actual) e a polícia tinha cumprido a sua obrigação de outra forma. Com ossos a estalar e tudo.

Quanto aos verdadeiros taxistas, aqueles que, com maior ou menor instrução, estão comprometidos para com a sua profissão e que procuram, cliente após cliente, proporcionar o melhor serviço possível e cobrando por isso o justo valor, estou solidário com a sua angústia. Com a angústia, não com a sua luta.

Porque os homens e mulheres que conduzem os carros, na sua grande maioria, são apenas pessoas a fazer pela vida. Não é profissão para enriquecer ninguém, excepto talvez os donos dos táxis (e das licenças). Se quem os contrata não os ensina e não os obriga a prestar um serviço melhor, é porque o considera desnecessário.


Inqualificável



São ao mesmo tempo cúmplices e vítimas de um sistema obscuro, onde muitas vezes se levantam suspeições de conluios, fraudes e favorecimentos, entre coisas piores. E isto porque o poder está em quem emite e em quem detém as licenças. Sem elas, não há táxi para ninguém.

É assim que os empresários do táxi, como gostam de se chamar, se encontram numa posição de privilégio (aliás, a mais fiel imagem de marca deste nosso país), confortavelmente alapados entre uma concorrência limitada e controlada e a falta de alternativas (similares) com que os cidadãos se deparam. Ou melhor, deparavam.


Agora temos alternativa. Uber, Cabify e quem mais vier a seguir com as suas novas plantaformas tecnológicas. Pouco me interessa quem são, desde que garantam um bom serviço (rápido, eficiente e seguro). O oposto do que fazem muitos táxis, desde que me lembro de neles andar.

E aqui devo mesmo abrir um parêntesis, porque há os táxis de Lisboa e os táxis do resto do país (Porto incluído). A diferença entre uns e outros é abismal porque o serviço prestado na capital é tipicamente muito - mas muito - pior do que no resto do país. Ou então sou eu que tenho azar e apanho sempre os tais condutores de táxi em vez dos verdadeiros e honrados taxistas.

Bom, mas pelo menos nunca apanhei este grandessíssimo asinino, que numa das poucas vezes que terá conseguido articular uma dúzia de palavras em conjunto, conseguiu proferir algo tão ignóbil que nem a sua estupenda boçalidade serve de atenuante. Felizmente é apenas um zé-ninguém, a quem nunca (jamais) foi dado tempo de antena ou exposição mediática. Ou será que foi? Maldita cocaí... coincidência.




Em resumo, se se sentem injustiçados, que façam ouvir a sua voz, que lavrem o seu protesto. Mas dentro da lei e respeitando a liberdade dos demais. Se pisarem o risco, uma vez mais que seja, que sejam exemplarmente punidos - logo ali, no momento da prevaricação.



De facto, este é o país das capelinhas (e dos Capelas). Dá a sensação de que não há quem não tenha a sua. Pequenos ou grandes privilégios, excepções, isenções, bonificações e perdões. De tostões e de milhões. E depois, lixam-se os mexilhões (que certamente também têm a sua capela).

Repito o que escrevi aquando das marchas dos "professores" (os maus, os que não querem ser avaliados porque sabem que vão chumbar; os que acham que têm direito a um emprego só porque sim; os que apenas parasitam os sindicatos porque não gostam ou não sabem ensinar) - se não gostam, podem sempre mudar. De profissão ou de país.

Aliás, juntando agora estes dois "grupos de pressão", aqui fica uma sugestão: encham até às costuras cada um desses táxis, conduzidos por essa minoria de selvagens, com esses "professores" inúteis e vão todos para a Uber que vos parta! 



Lápis Azul e Branco,

Do Porto com Amor



9 comentários:

  1. Ou como alguém disse, Portugal seria maravilhoso sem... portugueses!!!
    Bem vindo LAeB...

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    1. "Tem dias" em que acho que sim, tem outros em que penso que não. É que dou por mim a dizer o mesmo em relação a muitos outros países (que não todos)...

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  2. Nem mais. Quanto ao jumento em questão (lateral), desejo-lhe sorte. Porque num dia de azar alguém, com filhas menores (como é o meu caso), se pode cruzar com ele e, nesse momento, o fará engolir as palavras que disse - com dentes à mistura.

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    1. Eu apostava em fazer-lhe o mesmo que o bando de selvagens fez àquele Nissan da Uber... esburacar-lhe a traseira.

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  3. Caro Lapis, um dos grandes defeitos dos portugueses, é debitarem palpites e formularem certezas, sobre questões e situações que não estão devidamente informados. Como tal, só posso lamentar a infeliz analogia que descreveu no seu texto.

    Obviamente que não me estou a referir à sua visão do que se passou com os taxistas, da qual a partilho. Fico estupefacto como num país supostamente democrático e civilizado, existem pessoas que parecem saídas do exército do Gengis Khan, tal a forma bárbara com que se comportam perante terceiros.
    Contudo, o que o Lapis fez, foi meter bárbaros e vítimas dentro de um mesmo saco, ou taxi, no caso.
    Se esta questão dos taxistas é uma situação clássica de resistência à mudança e à evolução, já a situação dos professores mais se pode enquadrar na visão nazi sobre a questão judaica.
    Na avaliação dos professores, na forma que estava, não existe qualquer bondade ou interesse na melhoria da qualidade do ensino, como o Ministro Crato anunciava ao rebanho. O único interesse da avaliação dos professores foi somente o de despedir e limitar o acesso à carreira. É público que a visão ideológica do referido senhor, e seus superiores, era transferir gradualmente o ensino da órbita pública, para a privada. Daí a necessidade de justificação de despedimentos através de uma pseudo-farsa-avaliação.
    Se o caro Lapis estivesse informado sobre a questão, saberia que a avaliação dos professores tinha quotas. Quer isto dizer, que uma determinada escola tinha pré-estabelecida a quantidade de "excelentes", "muito bons" ou "bons" que podia dar. Ou seja, o Lapis podia ser o Cristiano Ronaldo dos professores, mas se a quantidade de "Excelentes" e "Muito Bons" estivesse já atribuída, apanhava com um "Bom" na mesma (e porque "bom" é o mínimo para se manter na carreira). E sim, entre empregados novos e velhos, advinhe para quem iam as melhores classificações? Se lhe disser que essa classificação falsa e mentirosa tem influência na contratação, o caro Lapis também não iria para a rua manifestar-se? Ou gosta de farsas?
    Já nem entro pelo absurdo que depois se deu, em que uns professores eram avaliados e outros não, consoante a sorte de se ter acabado o curso num ano, e outros noutro.

    Não sei os conhecimentos do Lapis, mas no meu caso estou perfeitamente à vontade para falar de ambas as situações, pois tenho um tio taxista por conta própria no Porto, que tem que trabalhar muitas, muitas horas para trazer um mínimo de rendimento para sustentar a família, e tenho a minha esposa professora, uma boa profissional, colocada a 600 km de casa e da família, com pouco mais do que o salário mínimo, sem que haja 1 mísero cêntimo de compensação pelo custo brutal que é ser OBRIGADA pelo Ministério da Educação a trabalhar noutra região do país. Se acha que ser professor é uma profissão de sonho, garantida e repleta de direitos, porque o Lápis não se aventura nessa carreira. Decerto ia-se surpreender.

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    1. Meu caro Hugo

      Agradeço com sinceridade o trabalho a que se deu em me contestar e tentar elucidar sobre os problemas dos professores. A grande maioria ter-se-ia limitado a fazer uma de duas coisas: ignorar ou insultar.

      Eu sabia do risco em que incorria ao trazer à colação uma capela tão grande (uma catedral, vá) como a dos professores e ainda assim o fiz. Porquê?

      Porque são para mim um paradigma do que não funciona bem neste país e da nossa mentalidade retorcida. Procurando não ferir a sua susceptibilidade, passo a explicar.

      A analogia foi apenas entre os maus taxistas e os maus professores. Porque eles existem e não são poucos. Tal como me referi genericamente aos protestos dos sindicatos da classe (porque é disso que se trata), não a um momento concreto no tempo nem às medidas que as tenham "provocado".

      Genericamente falando, acredito que o Estado se deveria limitar a regular e a intervir como actor apenas quando "naturalmente" os privados não têm condições e/ou interesse em fazê-lo. A educação tem sido vista sempre como uma dessas excepções (ainda que em Portugal a intervenção estatal não seja a excepção mas sim a regra) e percebe-se a bondade do pensamento - ainda que hoje se possa pensar se não há alternativas mais eficientes e eficazes (outro assunto só por si).

      O grande problema é que o Estado em Portugal é visto como o garante de tudo e mais alguma coisa, começando e acabando na "segurança" dos seus funcionários.

      Eu tenho verdadeira admiração pelo servente público, na sua concepção original (aquele que devota o seu esforço de trabalho à causa pública), mas que infelizmente está total e irrevogavelmente deturpada, porque no miserabilismo do Estado Novo se desenvolveu uma cultura de "remediado mas garantido para a vida", algo que os textos constitucionais seguintes agravaram ainda mais.

      Voltando à Educação.

      O primeiro problema surgiu (em minha modesta e pouco informada opinião) quando meia dúzia de iluminados decidiu e foi fortalecendo a ideia de que desenvolvimento era ter um curso superior. Resultado, "toda a gente" foi encaminhada para lá, surgiram dezenas de novas universidades e foi tudo muito bonito. Excepto por dois problemas: a grande maioria dos cursos "inventados" à pressão (ou mimetizados dos originais) pouca preparação deu aos recém-licenciados. Doutores mas ainda burros, para facilitar a compreensão da ideia. E segundo, as expectativas criadas aos alunos e suas famílias (que em muitos casos tiveram que fazer grandes sacrifícios para pagar a aventura)foi de tal ordem que no final não havia como dizer "lamento mas o seu filho/a andou a perder tempo e a torrar dinheiro durante estes últimos 4/5/... anos, não há quem tenha interesse em empregá-lo com o estatuto de licenciado".

      Como se resolveu este grande problema? Abrindo as portas do Estado... deixai vir a mim os licenciadinhos... em particular, as da Educação. Resultado, todos os anos passaram a entrar no circuito dezenas/centenas/milhares de novos "professores" sem o mínimo de vocação e/ou preparação para tão importante e nobre desígnio, o de educar as gerações vindouras.

      (continua)

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    2. Quem esfregou as mãos de contente foram os Nogueiras desta vida, que rapidamente perceberam que o seu "poder de pressão" iria aumentar aritmeticamente. E esse é um dos pontos que me enoja, porque me parece que os sindicatos têm como objectivo principal a sua perpetuação e não a melhoria do ensino ou sequer dos professores. E daí também a analogia aos Florêncios dos táxis.

      E pego numa sua observação para concluir: de facto, quase todos temos alguém na família que é professor. Na maioria dos casos, vários. E se juntarmos os amigos, já dá um plantel de futebol. Não lhe parece que algo não bate certo?

      Percebo perfeitamente a angústia da sua mulher e família. E não duvido que seja uma excelente professora. Mas atrevo-me a perguntar o seguinte: não estará na natureza do ser professor estar disponível para leccionar onde for preciso? Tal como na dos juízes, por exemplo? E dos médicos? Claro que há formas e formas de fazer as coisas e aí não me meto por puro desconhecimento. Certamente me dirá que devia ser feito de outra forma. Eu aceito. Mas na génese, não deveria ser esse o espírito?

      E mais duas perguntas finais.

      Não seria razoável que os melhores professores tivessem preferência nas colocações? Como pretende estabelecer uma ordenação por mérito sem uma avaliação objectiva? (nota: as "quotas" existem em todo o lado e começaram no privado há muitos anos; as maiores multinacionais funcionam todas assim e as maiores nacionais importaram o modelo na maioria dos casos; não digo que seja justo, mas pense sobre possíveis consequências de não existirem...)

      E não seria razoável que quem não se sente "bem" procurasse outra actividade? Eu acho que deve ser de sonho para quem sonha e sempre sonhou devotar-se ao Ensino. Se não é, algo está mal. Neste caso, muita coisa, a começar pelos que nunca quiseram ensinar mas ainda assim ocupam a vaga dos "sonhadores".

      Haveria muito para esmiuçar, mas falta tempo e "espaço". Espero que tenho pelo menos percebido que nada me move contra quem quer fazer bem o seu trabalho, bem pelo contrário, revolta-me quem não o quer e com isso impede os outros de o fazer.

      Abraço Portista

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    3. Uma boa e saudável discussão sobre pontos de vista divergentes (desde que não sejam conversas de mouros e lagartos, que esses usam palas :-) ) é sempre salutar.

      Falar sobre professores em Portugal dava para muitos volumes de enciclopédia, e não é o interesse deste blog, onde queremos é falar e discutir o nosso Porto. Mas resumindo em tópicos altos:
      - Não me oponho (nem muitos professores...) a que haja uma avaliação DESDE QUE seja em TERMOS IGUAIS para todos. O que não é, nem nunca foi o caso.
      - Quando se fala em professores, tem-se que distinguir 2 grandes grupos. Os do quadro e os contratados. Por paradoxal que possa parecer, é muito mais fácil encontrar os tais "maus" professores que o Lapis se refere, nos profissionais do quadro, do que nos contratados. E as razões são simples: primeiro, porque antigamente era muito mais simples entrar na carreira e ficar efectivo em poucos anos. Como referiste, muitas pessoas à falta de melhor emprego acabaram no ensino sem ter vocação para isso. Nas últimas duas décadas sensivelmente, as restrições para entrar no ensino têm-se vindo a apertar significativamente, pelo que só os melhores contratados conseguem chegar a leccionar. Nas novas gerações, acredita que só mesmo quem QUER ensinar, é que tem pachorra para ainda concorrer e se sujeitar a uma colocação, que todos os anos é tipo roleta russa. Anda-se de casa às costas, sem que haja qualquer compensação por isso.
      Segundo ponto, o nosso "amigo" Mário Nogueira é um hipócrita nato. A defesa dele não é o ensino, nem os professores em geral, mas sim professores do quadro, cujo rendimento mais elevado contribui, e muito, para alimentar os sindicatos. A bondade e serviço público da Fenprof é tal, que se um professor quiser uma simples informação, ou é sindicalizado ou então que se amanhe sozinho.

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    4. Bem vistas as coisas, estamos basicamente de acordo...

      Uma nota quanto à abrangência do DPCA, que de facto é o Porto mas não apenas o clube mas também a cidade e região e tudo o que mexe com elas. Não há problema nenhum em debater para lá do futebol, ainda que (por minha culpa) esteja muito centrado nele.

      Abraço

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